Nos últimos anos, inovação virou uma espécie de mantra para as empresas. A busca por diferenciação gera a necessidade de inovar para estar à frente dos concorrentes, mas tenho visto casos em que a palavra se tornou uma buzzword com pouco sentido prático. É como falar em “estratégia de inovação”, quando, na realidade, a inovação precisa ser utilizada como forma de potencializar a estratégia de negócios.
Inovação não é algo que acontece da noite para o dia, não é plug and play. Na realidade, empresas com uma mentalidade inovadora, como várias que tive e tenho o prazer de atender ao longo dos anos, entendem que a inovação só acontece realmente (de forma consistente e com resultados práticos) quando está conectada ao propósito e aos valores da empresa, bem como à solução de um problema do consumidor.
Esse é mais um caso de assunto acelerado pela digitalização dos negócios durante a pandemia. Quem tinha ficado “imune” ao movimento ágil percebeu, da forma mais dramática possível, o quanto é importante ser flexível e adaptar-se rapidamente ao que o mercado apresenta a cada momento.
Para quem atua com comunicação, essa é uma discussão constante: vivemos há mais de uma década uma intensa transformação que mudou o balanço entre “grande mídia” e “mídia independente”: redações cada vez mais enxutas convivem com influenciadores digitais que têm o poder de alcançar milhões de pessoas. A transformação dos meios de comunicação é evidente: qual é a diferença entre uma rádio que coloca sua redação ao vivo no YouTube e o analista de investimentos que faz uma live comentando as notícias do dia?
O ecossistema de comunicação se transformou e as empresas que buscam ter uma presença mais forte precisam acompanhar as mudanças. As agências passam a conviver com o desafio de rastrear o mercado e descobrir onde colocar seu cliente para obter o maior impacto para o negócio. Se por um lado a vida era mais fácil quando só havia três jornalões e quatro emissoras de TV, hoje as possibilidades são muito maiores e mais interessantes.
Como acelerar a inovação na comunicação
Uma conferência da Yale University mostra que inovar significa usar uma caixa de ferramentas para obter os melhores resultados a cada momento. É preciso modificar processos, a própria empresa e a liderança para obter melhores resultados. Na comunicação corporativa, isso se traduz em uma série de transformações:
1) Inovação em processos
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Experimentação constante: buscar os principais veículos de economia, mas dar menos peso aos youtubers do setor, pode funcionar em um determinado momento, mas não em outro. Só testando, experimentando, aprendendo, é possível calibrar corretamente as ações.
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Crie projetos de curto prazo: a inovação funciona melhor quando acontece rapidamente. “Cozinhar” uma ideia por muito tempo não gera resultados, é preciso transformar conceitos em entregas. Ao trabalhar a comunicação de um cliente, crie projetos de curto prazo para seu time para estimular a geração de ideias que possam ser experimentadas.
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Busque novas perspectivas: a reciclagem de ideias tem um efeito limitado em um mundo em transformação. As receitas que tiveram sucesso no passado podem não funcionar mais.
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Calibre suas métricas: a tradicional centimetragem conta parte da história. Atualize suas métricas de mídia para o mundo digital. Qual é o valor de estar presente na live de um influenciador no Instagram? Qual é o impacto dessa ação sobre o negócio do cliente?
2) Inovações na organização
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Elimine os silos: crie caminhos para que as equipes aprendam umas com as outras e compartilhem melhores práticas.
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Estimule novas ideias e um ambiente de experimentação: mecanismos de premiação dos profissionais que trouxeram ideias que fizeram a diferença para os clientes funcionam bem para gerar um ambiente de inovação.
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Contrate bem: estamos em uma era em que os profissionais precisam ter autonomia para buscar os melhores caminhos para os clientes. A rotina de mandar press releases e fazer follow up está morta. Profissionais proativos geram melhores resultados.
3) Inovações na liderança
Toda transformação começa na liderança. Sem as pessoas corretas em posições de decisão, nada vai acontecer.
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Seja o “Chief Courage Officer” do seu negócio: é preciso ter coragem para fazer algo diferente, e isso vai contra a natureza humana. Quando o próprio líder do negócio busca melhorar constantemente e encontrar novas formas de entregar resultados, isso gera uma espiral positiva de inovação em toda a empresa.
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Polinize a inovação: o líder precisa ter o papel de estimular a troca de ideias. Crie fóruns formais e informais para a troca de ideias. Sessões de ideação, reuniões de compartilhamento de boas práticas e bate-papos no dia a dia do negócio são igualmente importantes para gerar um espírito inovador.
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Lidere com humildade: os melhores líderes sabem que não sabem tudo, e não têm nenhum receio em admitir isso. Quando admitem, abrem espaço para ideias melhores que as suas e estimulam a equipe a propor inovações.
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Busque novos líderes: a liderança precisa estar focada em construir novos líderes, treinando as equipes e construindo times sólidos.
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Destrua a burocracia: demorar para tomar decisões é uma forma segura de bloquear a inovação. Diminua as instâncias de aprovação e libere as equipes para aplicar novas ideias rapidamente.
Quando o assunto é inovação, não existe uma “bala de prata”, uma solução simples que responde todas as perguntas. Em qualquer segmento do mercado, inovar depende de saber identificar problemas, testar soluções, encontrar respostas e entender que, em pouco tempo, essas respostas não serão suficientes. É um processo constante e inevitável. Quanto mais você percorrer esse caminho, melhor será.