A sabedoria popular diz que o fruto não cai longe da árvore. Essa verdade vale tanto para a educação dos filhos quanto para o desenvolvimento de um negócio. Uma empresa terá mais sucesso quando sua liderança se esforçar para gerar novos líderes. Como em todo time, quanto mais fortes forem os integrantes do grupo, melhores serão os resultados.
Por isso, ter bons líderes é uma condição essencial para o sucesso de uma empresa. Especialmente quando falamos de scale-ups, o sonho que leva ao início do negócio não irá sustentar a visão por muito tempo. Sem líderes capazes de transformar a visão em valores, propósito, processos e metodologias, nenhuma empresa vai muito longe.
O investimento na formação de líderes deveria ser uma prioridade da liderança de qualquer negócio – e ainda mais quando o business plan prevê uma expansão agressiva em um curto espaço de tempo. Quando um negócio cresce rápido e não existem pessoas preparadas para ocupar os postos que passam a existir, a scale-ups depende de trazer gente de fora (com um alto custo e sem necessariamente ter alinhamento com o negócio) ou fica sujeita a um crescimento insustentável.
Existe uma grande discrepância, porém, entre o que se fala e o que se pratica. Um estudo realizado pela Gap International mostra que 85% dos executivos dizem que maximizar os talentos da empresa é muito importante e 83% dizem que empoderar os colaboradores é essencial para o sucesso. Ao mesmo tempo, menos da metade afirmaram que investirão no desenvolvimento de lideranças nos próximos 12 meses e somente 37% acreditam que seu time pode ter alto desempenho.
Esse gap existe, em grande parte, porque a ideia de investimento em liderança precisa ser revista.
Liderança não é um treinamento
Nos Estados Unidos, US$ 170 bilhões são investidos em programas de liderança, sendo que a maior parte desse valor é aplicada em treinamentos. E esse é o principal problema: liderança não se treina, se desenvolve.
Treinamentos indicam um caminho certo e comprovado de fazer as coisas, criando padrões e melhores práticas. Para muitas atividades, eles são excelentes – mas não para a formação de líderes. Afinal de contas, o que você busca com o investimento na liderança é desenvolver pessoas que pensem diferente, enxerguem novos caminhos para o negócio e gerem diferenciais competitivos.
Certa vez, li uma frase que cai muito bem aqui: “os treinamentos focam nas melhores práticas, enquanto o desenvolvimento de líderes tem que focar nas próximas práticas”. Para que líderes sejam desenvolvidos, eles precisam ter orientação, espaço para errar e oportunidades para fazer diferente e testar conceitos. Eles são como empresas exponenciais dentro do seu negócio. E você precisa tratá-los como tal.
Desenvolver e evoluir
Um bom líder amadurece com o tempo, evoluindo passo a passo e encontrando sua própria voz e personalidade. Mas ele faz tudo isso com alta performance, curiosidade infinita e disposição para ir além das quatro linhas do seu campo. Bons líderes reinventam o campo de jogo da empresa, por sinal – mas se você busca pessoas assim, precisa dar espaço para que elas passem pelas dores do crescimento.
É por isso que desenvolver lideranças não é uma tarefa simples. Somos pressionados pelas necessidades do dia a dia e pelas metas trimestrais, semanais, mensais. Com esse olhar de curto prazo, é muito fácil deixar para depois o desenvolvimento dos líderes – uma vez que o desenvolvimento não é um padrão a ser implementado e, com isso, leva tempo para dar frutos.
Isso não significa que o desenvolvimento de líderes seja um processo de tentativa e erro. Na realidade, os programas mais eficientes utilizam algumas técnicas que, comprovadamente, aceleram o amadurecimento profissional:
- Job rotation: os futuros líderes precisarão ter uma visão 360 graus do negócio – e nada melhor do que colocá-los para vivenciar os desafios de cada departamento e dar a eles a oportunidade de, ao mesmo tempo, entender os dilemas atuais e encontrar novas soluções.
- Projetos paralelos: a ideia é dar aos “CEOs do futuro” o desafio de sair da zona de conforto e desenvolver novas competências. Esses projetos podem ser desenvolvidos como missões específicas, reunindo times de diversas áreas e ajudando a aumentar o senso de pertencimento dos profissionais e a confiança em sua capacidade de entrega.
- Mentoria: independentemente da idade, pessoas com mais conhecimento devem sempre dedicar parte do seu tempo a ajudar os demais a se desenvolver. Isso faz com que os mentores desenvolvam suas técnicas de ensino e dá aos mentorados a oportunidade de aprender habilidades diferentes de pessoas diferentes. E conhecer múltiplas visões cria pessoas melhores – dentro ou fora do trabalho.
- Conselheiros: convidar pessoas mais experientes de fora da empresa a compartilhar seu conhecimento com os mais novos é uma forma de criar um ambiente de troca de ideias, que estimula a inovação e o surgimento de lideranças.
Como toda atividade de negócios, investir nas futuras lideranças oferece alguns riscos. Os profissionais que estão sendo preparados podem eventualmente receber boas propostas para mudar de empresa, ou podem ter uma visão diferente sobre o que desejam para seu futuro. Nesse caso, uma parte do investimento acaba sendo “perdido”. Por outro lado, bons programas de desenvolvimento de lideranças ajudam a reter os melhores talentos, que reconhecem um roadmap para seu sucesso profissional.
Como resultado, o retorno sobre o investimento em programas de desenvolvimento de líderes acaba sendo positivo. Seja pela redução do turnover ou pelo aumento da performance das equipes, os benefícios são imensos: segundo a Harvard Business Review, empresas que investem no desenvolvimento de seus líderes têm um retorno 5 vezes superior ao daquelas que têm menos foco em seus profissionais.
Seja pelo desempenho financeiro, pela capacidade de executar melhor a estratégia ou pela possibilidade de identificar mais caminhos para contornar crises e antecipar tendências, desenvolver lideranças é um recurso essencial para garantir a perenidade de qualquer negócio. Quanto antes começarmos, melhor.